Blogue do Doce Veneno

Wednesday, October 11, 2006

Carta de Carlos a Joana [excerto]

Cheguei por fim ao nosso vale, todo o passado me esqueceu assim que te vi. Amei-te... não, não é verdade assim. Conheci, mal que te vi entre aquelas árvores, à luz das estrelas, conheci que era a ti só que eu tinha amado sempre, que para ti nascera, que teu só devia ser, se eu ainda tivera coração para te dar, se a minha alma fosse capaz, fosse digna de juntar-se com essa alma de anjo que em ti habita.

Não é, Joana; bem o vês, bem o sentes, como eu o sinto e o vejo.

Eu sim, tinha nascido para gozar as doçuras da paz e da felicidade doméstica; fui criado, estou certo, para a glória tranquila, para as delícias modestas de um bom pai de família.

Mas não o quis a minha estrela. Embriagou-se de poesia a minha imaginação e perdeu-se: não me recobro mais. A mulher que me amar há de ser infeliz por força; a que me entregar o seu destino, há de vê-lo perdido,

Não quero, não posso, não devo amar a ninguém mais.

ALMEIDA GARRET
«Viagens na Minha Terra»

2 Comments:

  • Aqui está, bem documentada, a relação mais doentia que pode haver entre um homem e uma mulher!
    Ainda voltaremos ao assunto...

    By Blogger Professor, at 3:07 AM  

  • Também acho a história doentia. A vida não dá curso ao indefinido, segue em frente.

    By Blogger Fanette, at 7:56 AM  

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