Blogue do Doce Veneno

Tuesday, July 28, 2015

UM EPISÓDIO DE ADOLESCÊNCIA

Teria dezassete anos quando assisti numa das salas de cinema de Lisboa, à projecção do filme Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin. Foi, creio eu, ao longo de toda a minha vida, o filme mais angustiante a que assisti e que mais marcas deixou na minha maneira de pensar e comportamento.
A história do filme, já nem está bem clara na minha memória mas ainda me arrepia. É uma história de amor, de amizade, de salvação mútua, entre uma mulher, quase menina e um homem, já em fim de vida útil, um velho palhaço. Como já disse, só tinha dezassete anos, possivelmente a idade da protagonista, a jovem bailarina do enredo do filme mas a personagem que eu interiorizei foi a do palhaço, com idade já fora de prazo.
Quando se encontram, numa cena em que o velho impede o suicidio da jovem, estão ambos desmotivados, desiludidos da vida, destruídos e desacretidados nas suas profissões. O velho deixou de lutar, a maior parte do tempo de vigília estava bêbado. Leva a rapariga para o seu tugúrio, cede-lhe a sua cama, creio que dorme no chão aos seus pés. Trata-a e alimenta-a, agasalha-a. Com o cuidado de a manter viva esquece-se de beber. Os seus sentimentos um pelo outro vão ajudá-los a retomarem a auto-estima e ela volta aos treinos e aos ensaios, às audições e exibições até atinguir um lugar de destaque. Custou-me muito dar-lhe a bofetada,  à boca de cena, quando era a sua vez de entrar em palco e juntar-se ao seu partenaire, para um pas de deux, e ela tremia, histérica, sem conseguir dar um passo... dançou divinamente.
Ele abandonou o álcool, engendrou novos episódios cómicos, voltou ao teatro e aos aplausos, ressurgira.
O conflito entre a menina e o velho é horrível. Ele ama-a e ela ama-o ou confunde amor com uma grande ternura e gratidão para com ele. Surge um terceiro elemento, um jovem bailarino que também ama a rapariga. O palhaço vê todo o drama que o espera: o seu envelhecimento  inevitável e irreversível a par com a chagada ao apogeu da menina tornada mulher. Sabe do rapaz e encoraja a bailarina a seguir o seu coração e o seu destino, a esquecê-lo, a dedicar-se à sua arte e ao novo amor. Torna-se mesmo um pouco desagradável para que ela se afaste dele mas ela resiste embora se sinta cada vez
Mais agradada pelo colega de trabalho praticamente da sua mesma idade.
Acompanhei, compreendi, solidarizei-me com a atitude do palhaço e toda a sua angústia me tomou também. Na vida real não havia outra solução a não ser abandonar a cidade, fugir, desaparecer e eu concordadava. No filme o realizador (Charles Chaplin) tem outra solução: Na apoteose da sua exibição no espectáculo, com os plausos troando na plateia, o palhaço sofre um síncope e cai sentado na pele esticada do seu tambor que se rompe, no fosso da orquestra, morto. Os dois jovenbs estavam na sala assistindo e correm até ao fosso e bruçam-se sobre ele. A bailarina beija-o na testa e é retirada pelos circunstantes. Afasta-se com o seu rapaz ao som da  escelente melodia criada pelo Chaplin para este filme. O ecrã progressivamente escurece, surge a palavra fim e continua na tela  a legendagem da ficha técnica.
Lembro-me perfeitamente que chorava quase comnvulsamente com os olhos ainda fixos no ecrã onde já não via nada. Durante semanas esta história não me saia da cabeça. Tinha medo da noite de adormecer. Tinha pesadelos.
Esta história apanhou-me em cheio numa paixão por uma catequista da Paróquia do Campo Grande, em Lisboa. Era ela a “Pitucha”, um pouco mais velha do que eu. Preteriu-me a um ex-seminarista que por lá andava... Durante aguns anos tive a cisma das mulheres mais velhas do que eu, incluindo algumas professoras particularmente belas e leccionando Português (as matemáticas e cientistas não exerciam fascínio nenhum sobre mim). Quanto fui às sortes, como se chamava naquele tempo, à ida dos mancebos à inspecção para a futura encorporação no Seviço Militar Obrigatório e durante o tempo todo que estive na tropa, namorei apaixonadamente uma caixeira de loja, na  Baixa Lisboeta, casada, quanrenta anos, praticamente da idade da minha mãe.
Depois passou-me.
Mas porque me lembrei eu disto agora? Vocês não têm nada com isso mas podem crer, que há cerca de um ano, ano e meio, eu tive uma paixão por uma mulher que tinha idade para ser minha filha, que durou até há bem pouco tempo e teve os mesmo passos deste filme. É preciso sabermos retirarmo-nos para que os outros possam viver as suas vidas.
LAUDATE DOMINUM.

https://youtu.be/qE0BjK2kOkA

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