Blogue do Doce Veneno

Thursday, April 30, 2015

SOLILÓQUIO DO OSVALDO

Hoje o Osvaldo soliloquiava assim:
Sinto-me personagem de um episódio de espionagem internacional. Talvez não corra perigo de vida, por enquanto, mas não posso confiar em ninguém, nem em mim. A intriga social em que me encontro é, desvalorizando as suas componentes dolorosas o mais possível, liminarmente depressiva. Todas as reservas psicológicas têm de ser aplicadas sob pena de eu próprio sucumbir.
Levei tanta porrada ao longo da minha vida que o único refúgio que encontrei foi não amar ninguém. Por isso, não se espantem com a rudeza ou mesmo crueldade com que vou tratar algumas personagens desta escabrosa história se me resolver a contá-la.
Por qualquer motivo cujo alcance não descortino, cheguei ao estado adulto cheio de sonhos, parecia que podia ser amigo de toda a gente e que todos retribuiriam os meus afectos. Progressivamente fui aprendendo que esses não eram mais numerosos do que aqueles que me seguiam, esperando oportunisticamente que tropeçasse, para solícitos me ajudarem a cair.

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