Blogue do Doce Veneno

Saturday, December 30, 2006

E Deus criou...

Para uma leitura mais cómoda clique nas imagens.

Monday, December 25, 2006

Feliz Natal

Símbolo pagão ou não, esta fogueira é o sinal das calorosas Boas Festas que vos envio.

Sunday, December 24, 2006

A filhós

Nasci na cozinha da pastelaria grande e fui exposta no balcão com outras companheiras e esperei...
Havia no ar um misto de receio e de ansiedade, estávamos fresquinhas, desejosas de ser comidas.
Eu, oferecida e púdica como qualquer mulher desejável, esperava a minha vez.
Entre muita gente, um casal. Não era bonito nem feio, apenas um homem e uma mulher. Toda me arrepiei: imaginava o olhar guloso dele pousando em mim, obrigando a sua mão a mover-se e a levar-me à boca. Mas não, foi ela que me tomou suavemente e me mordiscou. Sensação boa a dos lábios, dentes, língua degustando-me elanguescida... Outras dentadinhas, outros embalos de lábios, de dentes, lingua e saliva. Aos poucos fui-me despedaçando... Que prazer ser assim deglutida lentamente... perdendo-me assim, devagar, tão docemente... Que prazer este desmembrar-me assim, dando prazer!

Saturday, December 23, 2006

O puto, a bola e o rio

O puto entrou na água até à cintura. O Arunca corre frio, cá fora está mesmo frio, mas nada o fará desistir. Os outros na margem incitam-no:
- Vem aí! Vem aí! E vinha. Uma bola de futebol pela ribeira a baixo. Apanhou-a e rapidamente levou-a para a margem. Um companheiro veio para a receber. Ele não a largou, subiu, subiu e só em terreno bem firme passou a bola ao companheiro. Que um serviço bem feito faz-se até ao fim!

Thursday, December 21, 2006

A Mãe



Uma das maiores aberrações da cultura portuguesa é o conceito de mãe. Por parirem uma ou duas crias, as fêmeas humanas sentem-se as maiores. Antes fossem abelhas ou formigas, essas sim, são mãezonas de milhares e milhares de filhos. E desprezam-nos soberanamente!

Wednesday, December 20, 2006

Estória imprópria o para o Natal


http://www.nonaarte.com.br/titulo.asp?titulo=184

O Ti Germano já não era o que fora. Os rapazes haviam crescido e foram-se, sabe-se lá para onde, a casa e os campos estavam velhos, ocos e estéreis e a própria Zé, sua mulher de tantos anos, parecia outra. Vivia como que do avesso resmungando sempre um ódio imenso sobre si mesma e o mundo. Nada lhe acordava o ser, mesmo a horta dantes seu ai-jesus, lhe alegrava os dias… Era como se só ela e sua raiva existissem. Os vizinhos e os primos de quem fora amiga e conselheira, na sua cabeça egoistamente envelhecida, queriam-lhe mal, invejavam-na! E a sua voz imperceptível proferia pragas e maldições que só ela ouvia mas ele adivinhava sob aquele rosto sempre fechado, engelhado e baço. Porque é que aquele estafermo que estava velha e azeda continuava a pintar o cabelo? Que estúpida vaidade era aquela?

Palavras rudes, gestos agrestes, como um saco de pesticida virado de fora para dentro, nem um gesto de ternura mesmo que fingida.

Sentado ao lume, ele olhava as labaredas, calado, com a sua manta velha sobre os ombros, respigava dentro de si e nem sabia o que buscava. As memórias, e tinha tido tantas, perderam-se com as dores e as maleitas dos anos – os seus pés, como lhe doíam os malditos esporões dos ossos, mal o deixavam deslocar-se para fazer o essencial da sobrevivência. Deitou a mão à embalagem dos comprimidos que andava a tomar para as dores e tirou mais um. De uma enfusa, bebeu uns golos de água para engolir o medicamento e permaneceu quieto nos seus pensamentos secretos e vazios.

Depois foi ao barracão buscar mais uns cavacos para o lume.

O Ti Germano rolou sobre o monte da lenha com uma dor feroz sobre o estômago e um vómito de horror se lhe formou na garganta. Engasgou-se e chegou-lhe às narinas um cheiro fétido como que de sangue, pareceu-lhe que se peidara e molhara as calças e não sentiu mais nada.

Seguiu para o hospital. Era grave. Sete dias, muitas dores, várias transfusões de sangue depois, resolveu deixar-se ir, voluntariamente. Que bom não sentir mais nada! Não voltou ao lume nem à lenha! Trombocitopenia aguda.

Sunday, December 17, 2006

E se hoje para variar

E se hoje para variar eu pusesse um texto bonito?

TERNURA



Desvio dos teus ombros o lençol,

que é feito de ternura amarrotada,

da frescura que vem depois do sol,

quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...


Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos
sós!

DAVID MOURÃO-FERREIRA
«MÚSICA DE CAMA»

Saturday, December 16, 2006

A Superescola!!! É em Portugal!

Mais um e-mail que merece ser publicitado:

A SUPERESCOLA

Onde estão as melhores escolas do mundo?

Claro! Está certo

Em

Portugal

Ora vejamos com atenção o exemplo de uma vulgar turma do 7º ano de escolaridade, ou seja, ensino básico.

Ah, é verdade, ensino básico é para toda a gente, melhor dizendo, para os filhos de toda a gente!

DISCIPLINAS / ÁREAS CURRICULARES NÃO DISCIPLINARES

1. Língua Portuguesa

2. História

3. Língua Estrangeira I — Inglês

4. Língua Estrangeira II — Francês

5. Matemática

6. Ciências Naturais

7. Físico-Químicas

8. Geografia

9. Educação Física

10. Educação Visual

11. Tapeçaria

12. Educação Visual e Tecnológica

13. Educação Moral R.C.

14. Estudo Acompanhado

15. Área Projecto

16. Formação Cívica

É ISSO – CONTARAM BEM – SÃO 16 (dezasseis)

Carga horária = 36 tempos lectivos

Não é o máximo ensinar isto tudo aos filhos de toda esta gente? De todo o Portugal?

Somos demais, mesmo bons!

MAS NÃO FICAMOS POR AQUI!!!!

A Escola ainda:

Integra alunos com diferentes tipologias e graus de deficiência, apesar dos professores não terem formação para isso;

Integra alunos com Necessidades Educativas de Carácter Prolongado de toda a espécie e feitio, apesar dos professores não terem formação para isso;

Não pode esquecer os outros alunos, "atestado-médico-excluídos" que também têm enormes dificuldades de aprendizagem;

Integra alunos oriundos de outros países que, por vezes não falam um cu de Português, ou melhor, nem sequer sabem o que quer dizer cu;

Tem o dever de criar outras opções para superar dificuldades dos alunos como:

Currículos Alternativos

Percursos Escolares Próprios

Percursos Curriculares Alternativos

Cursos de Educação e Formação

MAS AINDA HÁ MAIS

A escola ainda tem o dever de sensibilizar ou formar os alunos nos mais variados domínios:

Educação sexual

Prevenção rodoviária

Promoção da saúde, higiene, boas práticas alimentares, etc.

Preservação do meio ambiente

Prevenção da toxicodependência

Etc, etc…

"peço desculpa por interromper, mas… em Portugal são todos órfãos?" (possível interpolação do ministro da educação da Finlândia)

Só se encontra mesmo um único defeito: Os professores.

Uma cambada de selvagens e incompetentes que não merecem o que ganham, trabalham poucas horas, comparem com os alunos, vá, vá comparem.

Têm muitas férias, faltam muito, passam a vida a faltar ao respeito e a agredir os pobres dos alunos, coitados,

Vejam bem que os professores chegam ao cúmulo de exigir aos alunos que tragam todos os dias o material para as aulas, que façam trabalhos de casa, que estejam constantemente atentos e calados na sala de aula, etc. e depois ainda ficam aborrecidos por os alunos lhes faltarem ao respeito!

Olha que há cada uma!

Friday, December 15, 2006

A Implacável Actualidade do Eça de Queirós

As 7 maravilhas de Portugal


Eu votaria no Presépio que a nossa câmara fez construir em frente ao busto do Marquês de Pombal, no nosso Jardim mais central.

Melhor do que aquilo só o "Bairro Social" no leito de cheia do Arunca.

Wednesday, December 13, 2006

Qualquer Idiota

Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá
Thoreau, Henry

Citador

Friday, December 08, 2006

De Eliade a Tagore é um saltinho!







Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e aguentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.

A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.

Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.


Rabindranath Tagore

Wednesday, December 06, 2006

Estória Pícara IV

Naqueles tempos a animosidade contra mim era óbvia. Chamavam-me, os da oposição, “o quinto vereador do PSD” mas era entre as chefias da Câmara que esse facto era mais visível pela razão simples de que ainda estavam afectos ao anterior executivo socialista e não podiam saber se a nova maioria era para ficar.

Povão puro e duro, como eram, ainda estavam a apalpar o terreno. Mais tarde fixaram-se, como é costume das classes baixas da sociedade, colando-se ao poder dominante.

Era principalmente em duas actividades que eu tinha de exercer, que mais se revelava tal animosidade: - Na elaboração do Boletim Municipal e na feitura do Relatório de Actividades a apresentar à Assembleia Municipal.

O primeiro Boletim Municipal que produzi foi o cabo dos trabalhos... A partir de meados de Outubro, a ideia era recolher informação junto dos vários pelouros e Divisões de Serviços da Câmara para elaborar não só o relatório para última reunião ordinária da Assembleia como aproveitar boa parte desses elementos para elaborar o Boletim do Natal uma vez que alguém tinha decidido que apenas se fariam, como era costume da Câmara anterior, dois boletins por ano, um pelo Bodo e outro pelo Natal.

O primeiro deste mandato tinha aparecido pelo Bodo de 1994 executado por uma grupo ad-hoc e foi-me apresentado como guia para o meu trabalho com o segundo.

Vou abster-me de falar sobre as burocracias a cumprir para conseguir uma tipografia que executasse o número de que me haviam responsabilizado. Fica para uma outra altura em que aborde procedimentos administrativos.

Já trabalhava e residia há mais de dez anos no concelho mas ainda não me tinha apercebido completamente das relações de parentesco e suserania que ligavam e ligam ainda hoje as pessoas deste espaço geográfico.

Embora houvesse muita gente dos mais variados pontos do país, as barreiras sociais e a xenofobia dos naturais pombalenses obrigava os de fora a procurarem fazer parte do círculo dos da terra através de uma concessão tácita de “menagem”, principalmente aos mais influentes, ficando integrados nas diversas clientelas. Eu quando cheguei fui, através de colegas da escola, arregimentado para a facção da clientela do PSD, da qual só me libertaria em 1996/97, ficando a partir daí isolado e sem outro círculo de influência, excepto a própria escola e a sua comunidade.

Ora quis o acaso que o responsável do Boletim que me foi dado para guia fosse cunhado do proprietário da empresa gráfica que iria executar o trabalho do meu primeiro boletim.

Juro que todas as complicações em que me meti com este e outros números do Boletim Municipal não tiveram nada a ver com este facto.

Mas ainda não tinha arranjado oportunidade [nem pensava ainda nisso] para ir a Coimbra buscar a Amélia.