Como eu descobri que a imaginação dá prazer.
O mais remoto lugar de prazer que consigo recordar é o segundo degrau da escada de acesso ao primeiro andar da casa da minha avó em Alcântara.
Aqui me habituei a ficar quase imóvel quando a minha mãe tinha de sair e não ficava mais ninguém em casa para tomar conta de nós. Os melhores momentos eram quando a minha mãe levava com ela o meu irmão e eu permanecia sozinho à espera que eles regressassem.
Não sei que idade teria mas lembro-me que já pensava. Imaginava, olhando os movimentos do pó num raio de luz que vindo do quintal atravessava a vidraça da porta de comunicação, que podiam por lá descer anjos do céu que me fizessem companhia já que obedecendo às ordens de minha mãe eu ficava muito quieto esperando por ela.
Não me lembro destes momentos mas lembro-me da sensação de tranquilidade e bem-estar que me davam estes pensamentos. Era como se uma doce embriaguês de que na altura nem sabia o significado, me tomasse e me entorpecesse de felicidade. Hoje admito mesmo que aqueles momentos tivessem para mim um significado orgástico, que só muito mais tarde vim a experimentar através da acção sobre os genitais.